No início do mês de Janeiro de 1961, o estado de saúde de João da Silva Rosa (arguido preso na PIDE-DGS) agravou-se consideravelmente. Foi observado por um médico a 3 de Janeiro de 1961, o qual emitiu o seguinte parecer: “sou de opinião que deve baixar Hospital para efeitos de tratamento que não pode ser feito na prisão, além de que a sua doença tem que ser acompanhada, na sua evolução, pelo médico”.
Porém, mesmo com agravamento do estado seu estado de saúde de João da Silva Rosa ,o inspector da PIDE-DGS de Bissau não providenciou o seu internamento como recomendou, de resto, o parecer médico. Assim, datado de Janeiro do mesmo ano, este escreveu ao inspector da PIDE de Bissau uma carta (certamente a última em vida), na qual dizía:
“Forçado pelas circunstâncias, resolvi fazer-lhe estas linhas que V. Ex.ª saberá desculpar-me a ousadia e o tempo que lhe vou roubar. Há mais de 45 dias que os meus pés se incharam para depois baixarem até ao normal. E, de repente, começaram novamente a incharem e agora estão tomando proporções verdadeiramente alarmantes, pois o inchaço subiu até às pernas!
Passo noites horríveis, com insónias e abalos no coração provocados por tensão arterial muito elevada, originando a asma cardíaca que abala-me o corpo e canso-me ao menor esforço. Se este estado de coisas se prolongar por mais tempo, o meu estado de saúde passará de pior a péssimo e de grave a alarmante.
Consequentemente, rogo a V. Ex.ª a minha hospitalização urgente ou a liberdade sob caução, a fim de ser tratado pelo sindicato onde tenho médicos e medicamentos. Esperando que V. Ex.ª, atendendo o seu alto espírito de compreensão e de justiça, encontre solução para este problema tão grave como urgente, para o que deixo aqui expresso o meu profundo agradecimento e a expressão bem sincera do meu maior respeito.
Humildemente
Ass. João Rosa"
Porém, a 4 de Abril de 1961, recaiu sobre a carta de João da Silva Rosa o seguinte despacho do inspector: “O Sr. delegado de Saúde que se pronuncie sobre o estado de doença do arguido”. É então que é autorizado ao doente a prisão hospitalar fora dos calabouços da PIDE-DGS, mas num momento em que se encontrva já muito debilitado, vindo a falecer pouco tempo depois, em data que não logramos apurar, mas que muito provavelmente ocorreu entre os meses de Abril e Maio do mesmo ano.
Curiosamente, com uma longevidade surpreendente (45 anos depois), o nome de João Rosa é amiúde evocado na sociedade guineense. É caso para dizermos que a mística por que lutou e pereceu é a matéria-prima de que são feitas as grandes páginas da história guineense e das suas grandes figuras. Por outras palavras, elas também são as asas asas sobre as quais ainda voam os sonhos mais belos de um devir promissor.
Leopoldo Amado.